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A trajetória do adoecer

Atualizado: 13 de nov. de 2019


Fases que percorremos para adoecer


A construção da doença é um processo lento e gradual, embora não tenhamos consciência disso, pois não estamos atentos aos sinais que o nosso corpo demonstra. E mesmo que haja manifestações de forma abrupta, isto é, mesmo que a pessoa manifeste a patologia física de forma rápida e intensa, geralmente ela percorreu um longo caminho, pois adoecer é um processo que trilha os seguintes caminhos:


Primeira fase - Tensão Emocional

Tudo começa com o aspecto emocional e a energia que esse desequilíbrio acarreta. Alguns fatores podem gerar essa tensão e desgaste, sendo eles:

- O Psicológico - ocorre um tipo muito pessoal de sofrimento na esfera emocional, algo como: falta de amor a si próprio, sentimento de culpa, sentimento de inferioridade e menos valia, sentimento de abandono, tristeza, solidão. Estes aspectos são mais frequentes do que imaginamos, as pessoas sofrem sem demonstrar, sem dizer ou tentar resolver, pois acabam se adaptando a essas situações internas desagradáveis e autodestrutivas.


- O Fisiológico - compõe as disfunções orgânicas que o passar do tempo acarreta no organismo humano, que são inevitáveis para quem vive, mas para muitas pessoas de difícil aceitação, como por exemplo: mudanças no corpo (essa característica está presente em todas as fases de mudança corporal da vida, como deixar de ter o corpo infantil e se tornar adolescente, chegando até na transformação do corpo no idoso), queda de cabelos, sobrepeso, gravidez, rugas, aparecimento de manchas, perda da força e resistência.


- O Social – as dificuldades são múltiplas neste item. Inclui trabalho, escola, família, casal, amigos, grupos. Vou ampliar, só para desenvolver melhor os vieses em um dos itens citados, o trabalho, por exemplo: tudo que podemos vivenciar na relação profissional e como essas situações nos afetam, como a satisfação ou não da tarefa que executamos, a pressão sofrida, as exigências cada vez mais intensas, a ameaça do desemprego, a rivalidade, a competição e o ambiente. Nosso trabalho nem sempre é prazeroso e saudável. Imaginem se fossemos desenvolver aqui com detalhes todas as dificuldades que poderíamos enfrentar na escola, família, casal, amigos, grupos. Teríamos infinitas possibilidades, que no dia a dia ocorrem e nos afeta muito.

Nota: Estes três fatores (psicológico, fisiológico e social) colaboram, criam e mantêm as tensões emocionais, que é a maneira (inconsciente) que o indivíduo tem de “lidar” com estas situações conflitivas internas, e que muitas vezes nem a própria pessoa percebe o quanto esses aspectos podem gerar desorganizações. Este sofrimento acaba por desencadear as alterações funcionais que sempre fazem parte do processo de adoecer. Na fase da tensão emocional não há alterações nos exames laboratoriais, o que leva o indivíduo a uma indignação e preocupação. Sente-se mal e nada é encontrado fisicamente.


Segunda fase - Distúrbio Funcional ou Alteração Humoral

Ocorrem os mesmos desconfortos físicos da primeira fase, só que em maior intensidade e a pessoa se sente mais debilitada. Esta nova fase do adoecer ocorre se a necessidade que gerou a primeira fase ainda não tiver sido resolvida e o conflito ainda existir.


O desconforto somático é muito mais comprometedor gerando processos de mal-estar intensos, principalmente alterações no humor da pessoa (irritabilidade e/ou agressividade), alterações na vontade (diminuição de atitudes e desânimo), ansiedade ou depressão (dependendo da tendência da personalidade), e grandes alterações no equilíbrio e rotina diária (no sono, apetite, concentração e atenção).

Nota: Nesta fase, como na primeira, não há alterações nos exames laboratoriais. Gera insegurança e fantasias de doenças “graves”, pois nada é encontrado e o indivíduo está cada vez mais indisposto e sentindo-se doente. Fantasias de graves doenças estão sempre presentes.


Terceira fase - Alteração Celular

Essa outra fase surge devido às dificuldades diversas apresentadas não terem sido resolvidas e a energia conflitiva segue se acumulando e ampliando o desequilíbrio interno.


Ocorrem nesta fase às alterações laboratoriais, comprometimento do equilíbrio celular e taxas alteradas das constantes (químicas, físicas, fisiológicas, imunológicas) necessárias para o equilíbrio e a manutenção do estado de saúde. Citando, como exemplos, alguns itens de alteração nas taxas de: colesterol, triglicérides, glicose, ureia, creatinina, T3 e T4, ácido úrico, baixos índices de vitaminas (A, B, C), potássio e outros dezenas de índices mensurados em exames laboratoriais.

Geralmente essas alterações vão requerer atenção e certos cuidados, mas não configuram patologias graves, e sim, indícios do seu aparecimento.

São sinais de alerta que o organismo desenvolve para explicitar a desorganização existente. O organismo está apontando o desequilíbrio e a gama de patologia que a pessoa tem probabilidade em desenvolver.

Devem ser tratadas das formas necessárias, seguindo a orientação do médico ou do especialista responsável. Devem ser medicadas para evitar desenvolver as doenças que são desencadeadas por essas alterações.

Nota: Uma observação interessante a ser fazer aqui é que a maioria das pessoas se encontra nesta fase do adoecer. Este fato é explicado por alguns fatores: ausência de atenção a si mesmo; negligencia em relação aos aspectos da corporeidade; Crença que os sintomas apresentados não são nada e vão passar por si; Medo de procurar o médico e saber que tem uma doença; Falta da cultura de prevenção e manutenção da saúde.


Quarta fase – Doença

Esta fase é a instalação da doença propriamente dita, é quando realmente o conflito emocional energético não foi resolvido e as alterações nas constantes químicas, físicas, fisiológicas e imunológicas foram ampliadas e não equilibradas. É claramente detectada em exames laboratoriais, com sintomatologia definida e comprometimento das atividades sociais, pessoais e físicas do indivíduo. São órgãos (exemplos: coração, fígado, estômago, cérebro) ou funções (exemplos: reprodutor, digestivo, excretor); ou sistemas (exemplos: imunológico, respiratório) que passam a não desempenhar de forma correta ou adequada suas funções, e com isso todo o organismo passa a ser prejudicado. A pessoa deve passar por médicos especialistas da área comprometida, fazer os exames adequados e recomendados e os tratamentos indicados, que em geral são mais rigorosos e que podem incluir desde medicamentos, procedimentos, até cirurgias.

Ocorre a lesão celular, isto é, o organismo desenvolve o desequilíbrio e passa a ter uma alteração concreta: a doença. O Conflito inicial vai ser externalizado e o objetivo (inconsciente) foi atingido: “estou doente!”. 


Nota: A doença desenvolvida tem uma relação com o conflito apresentado e o órgão lesado, uma correlação com a emoção conflitiva. Todas essas relações entre órgãos e emoções/sentimentos e os significados emocionais de cada uma das doenças são estudados pela psicossomática e apresentados nesse livro.


Quinta fase – A Cura ou o Morrer

A tendência dos tratamentos é que dê resultado e a pessoa se recupere, voltando ao estado de saúde e se cure da doença. Por mais contraditório que possa parecer, o processo acontece com o adoecimento para dissipar a energia conflitiva patologia e voltar a ter o equilíbrio por um tempo. Seria uma tentativa do equilíbrio ao contrário, pela dor e não pelo amor. Só que algumas doenças são tão graves ou já estão de tal forma muito avançadas no corpo, que, mesmo com os avanços da medicina, não é possível reverter o quadro de desequilíbrio. Pode ocorrer a hierarquização vertical, quando a pessoa vai acumulando várias doenças, que dificultam a cura. Nestes casos são duas as opções possíveis: ocorrer a cronificação da patologia, que vai fazer desta pessoa alguém que requer cuidados constantes e contínuos. A patologia pode ter controle, mas não cura, e a pessoa perde o “status” de alguém saudável. Ou, mais grave ainda, ocorre à impossibilidade de manutenção da vida acarretando a morte, pois o corpo não mais reage aos tratamentos e a condição de vida se perde.

Portanto essa quinta fase é bem distinta: pode ocorrer a cura, a cronificação ou a morte.





Anderson Zenidarci


Psicólogo Clínico, Mestre em Psicologia da Saúde, Coordenador e Professor de Pós-Graduação em Psicossomática e Transtornos e Patologias Psíquicas, Supervisor Clinico, Pesquisador, Colunista da revista Psique: Ciência e Vida, Autor de dois livros sobre psicologia: 99 Procedimentos facilitadores em processos psicoterápicos e Adoeci! Por quê? 

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