1. BUSCA DE SI MESMO E DA IDENTIDADE: O adolescente que vem de uma infância já vivenciada e definida, precisa se adequar a todas as transformações que ocorrem com seu ser. Surgem muitas mudanças físicas (características sexuais primárias e secundárias), mudanças do corpo (altura, peso, forma). Essas características agridem o adolescente que, acostumado a ser criança, não está preparado e, principalmente não entende o que está acontecendo consigo. Na busca de segurança e de sua identidade, ele tende por recorrer a situações que se apresentam como mais favoráveis no momento, o que o leva a adotar e apresentar diferentes identidades.
2. TENDÊNCIA GRUPAL: Há uma necessidade de se identificar com o outro para se auto afirmar e ter segurança, pois nestes grupos homogêneos, todos se identificam com cada um. Ocorre uma uniformidade de tal forma que todos apresentam os mesmos padrões de comportamento, vestimentas, preferências, falas, etc. É uma tentativa de firmar sua identidade em oposição às figuras de poder, pois geralmente assumem posturas extremadas e discrepantes em relação ao grupo familiar. É a família idealizada e sem diferenças.
3. NECESSIDADE DE INTELECTUALIZAÇÃO FANTASIOSAS: É uma tentativa de equilibrar as fantasias infantis ainda atuantes e a revolta por estar entrando na vida adulta e, portanto, percebendo conflitos e desigualdades sociais, problemas familiares e de seus núcleos próximos. Tenta-se encontrar soluções mágicas e rápidas, nem sempre coerentes, para resolver problemas sociais, onde a pseudo consciência social e a fantasia infantil encontram as soluções.
4. POSTURAS RELIGIOSAS OU MÍSTICAS: Geralmente, as posturas extremadas estão presentes no mesmo indivíduo, pois oscilam de um estado místico muito fervoroso a um ateísmo exacerbado. Podem migrar muito facilmente de um credo a outro, sem conflito algum de dogmas. São soluções para a angústia frente ao desconhecido e à morte.
5. DESLOCALIZAÇÃO TEMPORAL: O adolescente “espacializa” o tempo para poder manejá-lo, vivendo sua relação com o mesmo como um objeto. Com isto, o pensamento, tanto frente ao temporal quanto ao espacial, adquire características muito especiais e particulares. As expressões “Não ter tempo” e “Falta um tempão”, independentes da temporalidade, são constantes neste universo.
6. EVOLUÇÃO SEXUAL MANIFESTA: É o período de extrema exploração do corpo, de jogos sensuais e sexuais, exibicionismo, voyeurismo, conquistas “impossíveis” e tramas amorosas. Período extremamente conflitante, muito marcado por mentiras contadas em rodas de amigos sobre feitos e conquistas, que escondem a insegurança em relação à própria sexualidade e definição sexual. O indivíduo sai da bissexualidade infantil para uma definição de seu objeto de prazer e desejo. A angústia frente ao novo e místico leva o adolescente à obsessão sobre o tema.
7. EMOÇÕES INTENSAS: O amor é apaixonado e intenso, porém extremamente frágil. Acompanhado da busca do parceiro de forma insegura e absorvente, marca o início da vivência afetiva e dos namoros na adolescência. Tudo é “definitivo” e absoluto. Há o exagero nas manifestações emocionais.
8. CURIOSIDADE INQUIETANTE: É o redescobrir o mundo, conhecer o novo, ter novas experiências. Com isto o jovem percorre uma trajetória que é composta de muitos lugares, pessoas e situações sucessivas. Com a internet, esse movimento se tornou intenso e globalizado, quando estamos nos referindo ao mundo virtual, mas também está presente no dia a dia, em que o adolescente tem um “gás” que o faz estar em vários lugares e compromissos em um único dia. É fundamental esta característica, pois recicla e renova a percepção, é o “novo” surgindo. Esta característica positiva, a curiosidade, pode ter um aspecto preocupante quando o adolescente passa a experimentar álcool ou outras substâncias para sentir as sensações descritas como efeito do uso, e assume a postura de usuário.
9. VERDADES ABSOLUTAS: Por mais frágeis que sejam os argumentos ou os posicionamentos, sempre que afirma uma opinião ou postura, ela é enfática e radical. São verdades absolutas que não duram muito tempo e podem ser substituídas sem muita reflexão.
10. ATITUDE SOCIAL REIVINDICATÓRIA: O adolescente faz vir à tona as contradições muitas vezes absorvidas pelo adulto. Sua rebeldia e reivindicações fazem repensar e transformar padrões de condutas da sociedade e, ao mesmo tempo, muitas posturas são rebeldes por si, resquícios dos aspectos infantis ainda vigentes. É como se fosse um ritual de iniciação da fase adulta, que mostra a resistência em tomar parte na já “organizada” sociedade, onde só resta a ele a adaptação, e também representa uma agressão às figuras paternas entendidas nesse momento como repressoras.
11. CONTRADIÇÕES SUCESSIVAS NAS MANIFESTAÇÕES: A conduta do adolescente está dominada pela ação, que constitui o modo de expressão mais típico nestes momentos da vida, em que até o pensamento precisa tornar-se ação para poder ser controlado. Como seus pensamentos não são coerentes e fixos, consequentemente sua conduta e comportamento seguem esta fluidez. Os processos de projeção e introjeção são intensos, já que existe a tentativa de elaborar o luto da perda da identidade infantil, desenvolvendo identidades ocasionais, que são resultado das variações e frequências destes processos.
12. SEPARAÇÃO PROGRESSIVA DOS PAIS: A base desta característica é a quebra do processo de idealização dos pais, criada na infância, pois o adolescente necessita do afastamento do objeto idealizado, até para retaliá-lo sem culpa. Não é só das influências, condutas e valores das figuras paternas que o adolescente se afasta, mas de sua parte infantil, que idealizava estas figuras, que agora passam a desempenhar o papel de perseguidores e repressores.
13. CONSTANTES FLUTUAÇÕES DO HUMOR E DO ESTADO DE ÂNIMO: A quantidade e a qualidade da elaboração dos lutos do adolescente determinarão à maior ou menor intensidade desta expressão e destes sentimentos. As mudanças de humor são típicas desta fase, e é preciso entendê-las sobre a base de mecanismos de projeção e do luto, já que é um estado de ânimo oscilante entre a desesperança mais profunda ou sua presunção desmedida. Está ligado à elaboração ou não do luto.
14. LUTA PELO PODER ENTRE O ADOLESCENTE E O MEIO: O papel do adolescente na sociedade é marcado não só pelos próprios conflitos e transformações corporais e emocionais, mas também pelo não entendimento por parte do meio adulto e presumidamente “maduro” desta fase e de suas características tão particulares. O grupo social que detém o poder (pais, avós etc.) não se organiza no sentido de procurar o entendimento do universo adolescente, mas sim, tentam, de forma direta ou indireta, enquadrar o adolescente às normas e valores do grupo que, na maioria das vezes, não são compatíveis com as normas do adolescente.
Anderson Zenidarci
Psicólogo Clínico, Mestre em Psicologia da Saúde, Coordenador e Professor de Pós-Graduação em Psicossomática e Transtornos e Patologias Psíquicas, Supervisor Clinico, Pesquisador, Colunista da revista Psique: Ciência e Vida, Autor de dois livros sobre psicologia: 99 Procedimentos facilitadores em processos psicoterápicos e Adoeci! Por quê?
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