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Postura pessoal frente à doença









Em relação ao ato de adoecer, também encontramos diferenças significativas quanto à percepção da própria doença e o significado que se atribui a ela. Este aspecto mostra (e denuncia) a interação do indivíduo com sua própria limitação, medos, crenças, apegos e visão de finitude (da morte).

Cada um de nós tem um próprio estilo de vida; portanto, temos com isso um próprio estilo de adoecer, e é por isso que devemos dar ênfase ao histórico de vida do indivíduo, tentando estabelecer parâmetros e correlações psicossomáticas. Temos sempre que lembrar que o sintoma físico é um grito de socorro e uma tentativa de proclamar o sofrimento e também esperança e necessidade de ser socorrido. Cada um tem uma forma distinta de adoecer, mas com a mesma finalidade.

Há alguns parâmetros posturais que também podem ser entendidas como mecanismos de defesa inconscientes frente à ameaça e que também são indícios dos motivos e até da necessidade de o próprio adoecer da pessoa. São elas:


1 - Maximização da doença: A doença, os sintomas, a gravidade e a extensão tomam proporções faraônicas. Há uma exacerbação do sofrimento e do comprometimento da patologia. A pessoa “vangloria-se” da gravidade da doença. A dor dela é a maior de todas.


 2 - Vitimização frente à doença: Sentem-se prestes a sucumbir frente à doença, é sempre letal. É um drama imenso. Fala da doença para todo mundo, o tempo todo. Na sua fala, sua chance de sobreviver é mínima. Qualquer dor é câncer, qualquer tontura é AVC. Os remédios fazem mal, assim como tudo à sua volta.


 3 - Esnobismo frente à doença: Está ciente da gravidade, mas sente-se inatingível, não se preocupa com o resultado dos exames, não toma todos os remédios por achar que são muitos. Sente-se superior a doença. Certa ironia e questiona a capacidade dos médicos e a eficiência dos exames.


 4 - Mitificação frente à doença: Sente que a doença é uma provação, uma elevação espiritual que ele tem que passar. O sofrimento é valorizado e parece dar status para a pessoa. Tem uma influência religiosa neste tipo de postura.


 5 - Visão Científica frente à doença: Aprofundam-se no assunto, passam a ser conhecedor de todos os sintomas, estágios da doença e também, de todas as formas e tratamentos possíveis. Querem ter conhecimento e discutem as teorias sobre como melhor tratar. Lidam racionalmente, pesquisado, coletando várias informações, mas não entram no seu emocional. Falam da doença como algo técnico e não vivido por eles.


 6 - Sentimento de Culpa frente a doença: procuram culpas nos seus atos, atitudes, pensamentos que os façam dignos da doença. Sentem-se merecedores e procuram localizar o que fez de errado para merecer essa punição. A doença veio fazer justiça. E eles se redimem, sem saber do que, pois, são merecedores pelos seus pecados. Também nesta manifestação pode ter influência religiosa.


 7 - Descaso frente à doença: Não querem saber o que está acontecendo com eles. Evitam fazer exames e não vão aos médicos. Toma poucos remédios e não pergunta para o que são e não querem saber de nada. Ignoram a doença, esquecem dos tratamentos. São relapsos frente a tudo que significa estar doente e fazer os tratamentos. Trocam e confundem os remédios e os seus horários, não se lembram do nome da doença que tem.


 8 - Postura consciente frente a doença: Atua na doença de forma “saudável”, isto é, procura médicos, faz exames necessários, tem ciência da patologia, realiza os tratamentos de forma recomendada. Durante o tratamento se mantém atento as suas reações físicas, retorna ao médico com a regularidade solicitada, refaz os exames quando necessário e espera o médico dar alta, portanto, oficializar o fim do tratamento. É colaborador e receptivo.


Nota: Estes relatados acima são os tipos puros de reação frente à doença, mas há também os mistos, que na realidade são os mais frequentes na população, eles incluem em média a união de dois tipos (65% dos casos entre os mistos) ou de três tipos (35% dos casos entre os mistos). Em ambos os casos existe sempre um tipo dominante, que dá maior contribuição ao perfil do paciente e o (os) complementar (es), que colaboram com a construção deste perfil. Exemplo: A pessoa apresenta o descaso frente à doença (dominante) com características de culpa frente à doença (complementar).




Anderson Zenidarci


Psicólogo Clínico, Mestre em Psicologia da Saúde, Coordenador e Professor de Pós-Graduação em Psicossomática e Transtornos e Patologias Psíquicas, Supervisor Clinico, Pesquisador, Colunista da revista Psique: Ciência e Vida, Autor de dois livros sobre psicologia: 99 Procedimentos facilitadores em processos psicoterápicos e Adoeci! Por quê? 

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